sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O prazer de amar Bolas de Berlim

Gosto de Bolas de Berlim. Quem me conhece sabe que sim. Gosto delas nem muito grandes nem muito píqueninhas, mas mais a fugir para o píqueninhas. Gosto delas com um sorriso amarelo bem rasgado, mas também gosto daquelas misteriosas que só mostram um pequeno apontamento da sua alma cremosa e amarela. Prefiro o açucar granulado, o normal digamos, ao açucar em pó, porque é mais agradável ao tacto da língua e da boca. Gosto de me sujar todo com esse brilho açucarado. Gosto de correr o risco de alguém adivinhar que estive a comer Bolas de Berlim à algum tempo, porque ainda trago uns grãozinhos de açucar nestas beiças gulosas. Prefiro ainda o açucar granulado porque o açucar em pó tende a dar-lhes um ar gorduroso, um ar de puta-porca, enquanto que o açucar do dia-a-dia lhes confere o glamour de uma estrela de cinema toda vestida de diamantes, na noite de entrega dos Óscares. O meu olhar namoradeiro agradece.

Repetindo...de um modo mais sintetizado e clarificador:

Áçucar em pó  =   Puta porca
Açucar granulado daquele de trazer por casa   =   Estrela de cinema na noite de entrega dos Óscares.

Depois há a questão da massa. Se o creme é a alma e o açucar o vestido, a massa é o corpo. Pois muito bem... a massa deve ter uma aparência consistente, deve demonstrar personalidade, mas ao mesmo tempo desfazer-se em fofura quando as trincamos. A massa, por muito paradoxal que pareça, deve ser tudo menos massuda.(já repararam que a própria palavra massuda é massuda?). Mas nisto as Bolas são como os melões e as mulheres: só depois de se abrir é que se sabe se é bom. Só depois de trincar uma bola é que sabemos realmente se são boas e não massudas. 

Há, no entanto, uma coisa que posso partilhar convosco: "Não devem confiar nas bolas muito grandes, porque geralmente são massudas, demoram horas a mastigar e custam a engolir. Não se deixem seduzir pela quantidade. Além do mais as Bolas de Berlim não são para matar a fome do corpo, mas sim a fome da alma."

E como sabemos se são grandes ou pequenas?

Pois para mim uma bola tem o tamanho certo quando se come em 4 a 6 dentadas. E sofre de obesidade mórbida quando se come entre 6 dentadas e o ínfinito.
Outra coisa importante é que no fim devemos sentir vontade de comer mais uma, mas simultaneamente pensar que isso estaria errado, que seria faltar ao respeito à linda Bolinha que acabamos de comer.


Bolas de Berlim é só uma por dia, e nem todos os dias.


Temos que estar constantemente a "dar um tempo" com elas. Devemos come-las com saudade, para saborearmos devidamente esses pequenos momentos de comunhão espiritual. O amor às Bolas da Capital Alemã rege-se pelo mesmo manual que o amor a outra mulher ou homem.
Quem gosta de Bolas de Berlim e passa o dia a chupar os resquícios de sabor que ela nos deixou nos dedos, sabe do que falo.

P.S. Não falei da questão, (para mim inexistente), do com ou sem creme, porque para mim só existem ou Bolas de Berlim (com creme claro está) ou Bolas de massa oxalá-não-massuda- com açucar-oxalá-granulado.

P.S. Gostaria de deixar claro que este blog procura não fazer grandes juízos de valor e que por isso respeitará quem prefira açucar em pó. Também respeito quem defenda que Fílipe Pinto deve ganhar os Ídolos, embora me faça confusão que ainda ninguém lhe tenha dito que um dia lhe pode rebentar uma corda vocal em directo, e que cantar como quem caga não é digno de uma estrela Pop, mas sim de um cagão. 

Carlos se me estás a lêr...
...
...
...

...ficas lindo quando choras pelas vítimas do Haiti...

...

...mas cantas como uma pêga desesperada por fama.


 Já agora que merda é essa de cantarem para as vítimas do Haiti?? O Haiti não fica já ali.  Além disso, as televisões estão todas soterradas e eles neste momento fazem tudo menos ver TV, e mesmo que tivessem televisões, para tentar atenuar (muito ligeiramente entenda-se) os momentos desgraçados que estão a viver, os Ídolos versão tuga nunca passaria lá, e mesmo que passasse eles mudariam de canal.

Tive uma ideia...

E se cantassem mas era para ganhar e mais nada, talvez Portugal e o Mundo, por irónico que pareça, vos ficasse mais agradecido.

(Não vou falar da Diana porque não vale a pena)

Beijocas pequenas, não massudas, cremosas quanto baste, e revestidas com açucar granulado.

O prazer de acordar numa sexta.

À sexta acordamos com um pensamento que nos sussurra aos ouvidos algo como: "Tenho uma boa notícia para tí...amanhã é sábado e hoje só te deitas à hora que a Rambóia deixar."
E aí vamos nós. Saltamos da caminha quentinha, e em bicos-de-pés, porque o chão está frio comÓ ..arálho, vamos até à casa-de-banho. Os mais cautelosos fazem xíxí sentado, os mais seguros de sí fazem-no de pé segurando-a só com uma mão, enquanto coçam o cú com a outra. Como hoje é sexta, a maior parte de nós assobia (nesta altura provavelmente uma canção da última gala do Ídolos), enquanto trata da sua higíene pessoal.
Limpinhos e cheirosinhos, qual carro a saír do stand, passamos à etapa seguinte: o "piqueno-almoço".
E ai meu Deus, o nosso piqueno-almoço é tão piqueninho e tão portuguesinho...

Meia-de-leite e pão com manteiga...

...ou na melhor das hipóteses uma torrada com manteiga derretida (se há coisa que não somos mitras é na manteiga, é manteiga derretida a escorrer-nos da beiça ao umbigo, das mãos aos cotovelos).

Nada parecido com os cáfés-dá-mánhá dos brasileiros da Globo. Eles é suquinho dí goiába, eles é suquinho di papaia, eles é bólinho com cáfé, eles é frutinha freisca, eles é o sol da manhá bánhando di luix toda fámília reunida. E sempre chega o cara atrasado pô cáfé-dá-manhá qui dix: Bommmmmm txiiiáááá´fámílía!!!
ao que a família responde: Booooommmm txiiaaa filhão!!! senta aí cuá gentxi!
Nós cá é mais:
"Anda lá moço come essa merda que já 'tamos atrasados! Engole lá a puta da torrada! bou pondu carro a trabalhar que tá um frio de escachar...foda-se! merda de Inverno que num bái imbóra...sempe a chuber sempe a chuber sempe a chuber sempe a chuber..."

E lá entramos no carro ainda a mastigar a miserável torrada, mais torrada que outra coisa qualquer.
Mas acontece que hoje é sexta, e nada nos vai roubar o assobio.
Chegamos ao trabalho com cara de rapaz-de-bem-cua-bida, quase com cara de apaixonados, e dizemos bom dia aos colegas. Eles lá vão respondendo (sabes que respondem porque lês bem os lábios). De súbito alguem pergunta:

"Viste aquele acidente ontem na A4?...Foda-se que cena pá...5 mortos, viste como ficou o carro?...Todo fodido, parecia um bolo de metal! Acho que dois ficaram encarcerados durante duas horas, mas estavam todos fodidos, parece que tinham o corpo cortado a meio...outros dois ficaram todos queimados, e um acho que foi projectado para o outro lado da auto-estrada e parece... dizem... pelo menos foi o que me disseram...ou lí em algum lado...não interessa... que encontraram a cabeça de um deles na berma do outro lado da auto-estrada, mas já estava morto. Aquela merda era só sangue por todo lado. Eu cá para mim o que se passou foi isto..."

E lá tens tu que aturar as putas das teorias de cada um...

"Para mim acho que foi o gajo que ia a dormir"       "Ó pá eu para mim naquele sítio...o gajo tinha que ir distraído a falar ao telemóvel"       "Atenção que aquela curva não parece mas é manhosa"       "Eu para mim o gajo vinha a fazer uma "ultrapasságe""...

E eis que alguém me pergunta o que é que eu acho, ao que respondo sem grande lirísmo:

"Quero que se foda essa merda"...

Mas não me ouviram, porque entretanto já estavam a dissertar sobre o Haiti, que a culpa é dos "amaricanos" e "num-sei-quê"...

Ufa!...é sexta! É Deus no céu e a sexta na Terra.

Um fim-de-semana lânguido e sereno para vôces.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O prazer de ser livre e eclético

Jovem...és livre!

Livre de combinar roupa às riscas com roupa às bolinhas, roupa tigrada com roupa zebrada.
És livre para lanchar um cachorro e um galão, um pires de moelas e um chá de cidreira.
És livre de misturar na tua set list, Lady Gaga com Beethoven, Ágata com Chopin. (Estou certo que se darão bem e aprenderam uns com os outros).

Na minha falaciosa opinião, o Homem mais livre e eclético que houve, é o inventor do Sarrabulho Doce. Para quem não sabe, aqui vai a lista de ingredientes:

Mel
Pinhões
Nozes
Pão

e


tcham tcham tcham tcham!!!!


...

Sangue de porco.

Esta receita é um verdadeiro manisfesto de liberdade e ecletísmo. Nada demoveu este Homem de seguir a sua intuíção. Ele tinha um "feeling"... que "tunáitz gonábi a greit naite" e lá misturou o sangue de porco com a restante rapaziada.

Resultado: Um aspecto verdadeiramente nojento, repugnantemente parecido ao vómito de um animal proveniente de um planeta de bichos maus e feios, e ao mesmo tempo "docinho". Muito "docinho" mesmo. De uma doçura que dá cor à alma mais enegrecida.

Jovem...escuta-me... presta atenção...

Não tenhas medo de vestir umas meias amarelo sol-radiante, com umas sapatilhas azul céu-lindo, umas calças verde primavera-viçosa com uma casaquinha amarelo canário-desbotado, por cima de uma T-Shirt vermelho puta-porca.
Nunca ouvi dizer que a natureza não tinha bom gosto e no entanto reparem no arco-íris... "uau!!o arco-íris!!...adoro!é lindo!é uma das coisas que refiro no meu perfil facebook: adoro contemplar o arco-íris!!"
E no entanto... que mistura de cores mais "brega" é aquela. Um arco íris é o planeta Terra a gritar ao sistema solar que é Gay e sem gosto.

Voltando ao tema das riscas com bolinhas...Há muita gente que gosta de fixar regras descontextualizadas e dizer: "Isto com aquilo, NUNCA se mistura". Pois toda a gente diz que não se misturam bolinhas com risquinhas, ou padrões axadrezados com padrões adamados, e no entanto...Hoje saí à rua com uma camisola azul marinho com pintinhas brancas, e uma camisa branca ás risquinhas azulinhas por baixo, umas calças pretas com finas riscas brancas, e umas botas verdes tipo "á-trolha", a rematar. E não é que quando me ví com atenção ao espelho, por volta do almoço, deparo-me com um tipo estiloso, livre e eclético. Gostei do que ví.
Depois também não aprecio gente que tem ódios de estimação do tipo: "Nunca usaría vermelho puta-porca" ou "Nunca usaria coisas brilhantes".
Eu também nunca usaría colecte reflector, e no entanto a isso me obrigaram circunstâncias azarosas. E sabem que mais...
Fica-me bem.

Meninas...dispam-se de preconceitos que eu aconchego-vos.

Cumprimentos lilás e amarelo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O prazer de falar de comida com a boca cheia

     Uma verdadeira mesa portuguesa é uma reunião de pessoas e prazeres. Ao contrário desses aborrecidos países nórdicos, ou simplesmente organizados, que acham que a comida está para o Homem como o "gÁsoile" para o carro, o português faz parte dessa lista de povos que se sentam à mesa para comer... enquanto sonham com comida.

    
     Numa mesa portuguesa (por definição cheia de gente, desde família a amigos e amigos dos amigos) em cada dez conversas, nove são dedicadas à "comezaina". Mesmo com o estômago entupido até ao esófago com feijão, arroz, mão de vaca, sola e tripas de porco; mesmo que estejamos à beira do colapso cardíaco de tão inchados, pesados, enfartados, afrontados e cheios; mesmo que estejamos a arrebentar pelas costuras como uma boa alheira de Mirandela (Uiii! que bem marchava uma alheira a seguir a este galão); mesmo com o corpo preso ao solo como um rochedo, a alma contínua tão leve como no ínicio da refeição e de sonho em sonho vai viajando pelos lugares da nossa memória: para aquele Verão de 1987 onde comemos as melhores moelas de sempre numa castiça tasquinha da Mamarrosa (para quem não sabe, fica perto da Palhaça, alí para os lados de Bustos); para a cozinha das nossas avós que faziam os melhores rojões do mundo (se bem que nisso não há grande dúvida que os da minha avó é que são os melhores e mais nutritivos, além de terem tanta gordura, que me aquecem durante todo o inverno); para aquele dia em que chovia lá fora um Inverno sem fim, mas nós cá dentro aconhegavamos a alma com um belo e envinagrado arroz de cabidela, ao som quente de uma lareira a arder.
 
     Como já vimos, na mesa aliam-se três prazeres basílares da nossa cultura*: comer, falar da comida que se gosta, e recordar.
    
É a saudade...
 
    A saudade que temos de tudo aquilo que já passou, mas principalmente daquilo que já se rebolou alegremente nas nossas papilas gustativas. As nossas cabeças esquecem-se de muita coisa, mas o nosso estômago não elimina nada da sua memória teragigamegabitiana.
Para além de falarmos do que já comemos e dos pratos que mais nos excitam,(isto enquanto comemos), revelamos também a nossa "saudade de futuro" **quando por fim alguém pergunta (geralmente de boca cheia):
 
"E logo à noite o que é que vamos jantar?" 
 
(e Ó Meu Deus! como eu odeio quando alguém fala para mim com a boca cheia! a tensão que eu sinto! o medo tremelicante que no meio daquelas palavras se projecte um feijão mal mastigado para a minha cara)
 
Nota de pé de post: Não desenvolvo mais o tema porque os interessados no assunto devem dedicar-se à leitura de "Em Portugal não se come mal" de Miguel Esteves Cardoso, verdadeiro mestre da arte de pensar, observar e escrever, e um guru nesta matéria.
 
Ah!...Não falei de beber, (vinho claro está), porque nós bebemos como quem come.
 
 
*Isto só para citar três, porque existem milhares deles coexistindo nesta orgia cacofoniante e concomitante de prazeres que é a mesa portuguesa.
 
**Palavras de Fernando Pessoa, mais amante de absinto e poesia, do que propriamente de orelheira de porco.
 
 
 
Abreijos agri-doces.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O prazer de conjugar o verbo LoLar

Eu lolo
Tu lolas
Ele lola
Nós lolamos
Vós lolais
Eles lolam


Assim se conjuga o verbo lolar...


(Suspiro): Ahhh! como este blogue me faz lolar. Lolo tanto que até me mijo. Fico bem disposto e com vontade de lolar umas loladas bem grandes sempre que na esperança de lolar aqui venho. É que lolar é o melhor remédio, e quem lola por gosto não cansa. Por isso lolemos meus irmãos! Lolemos como hienas insanas. Lolemos de tudo. Lolemos do nosso patrão, do nosso professor e de todo e qualquer sisudo. Lolemos das nossas vidas miseravelmente loláveis. Lolemos até sentirmos que temos os abdominais suficentemente tonificados. Vem comigo amor, vamos lolar até à morte!! Lolemos até que o mundo rache a meio.
Sim!!...Lolaremos todos tão alto que até os nossos vizinhos extraterrestres nos visitarão com o íntuito de calar a nossa lolada insuportável.
Nem a mais ínfima e remota partícula do Universo ficará indiferente à nossa lolada.




Eu lolo! E tu?...lolas??

domingo, 24 de janeiro de 2010

O prazer de ler boa literatura anónima

Há um tipo de literatura anónima que me emociona particularmente. É essa literatura espalhada pelos muros da cidade, pelas estações e apeadeiros, e nas portas de casa de banho públicas.

Impressiona-me pela acutilância, precisão sintática, pertinência temática, expressiva riqueza emocional, e pureza crua do seu conteúdo. ( De um despretensiosismo total).
Pedaços de escrita tão bem talhada que se tornaram em clássicos que a toda a hora podemos admirar.
Como este que leio na parede de um apeadeiro em Recezinhos:


9147899307,85.    Sou Puta e costumo andar pelo bairro.

O que eu aprecio aqui é o facto de o autor não específicar quem é a Puta nem qual é o bairro, o que abre não um caminho, mas uma avenida com três faixas rodoviárias de cada lado, e um separador central com uns enormes plátanos bem viçosos, à nossa imaginação.
Não obstante isso, deixa-nos uma pista - o número de telemóvel. E isso deixa no leitor uma expectativa prazeirosa: Será que o número de telemóvel corresponde mesmo à puta X do bairro Y.
(eu próprio estou tentado a confirmar isso, quando acabar de escrever o post).
Depois há a verdadeira Antiguidade Clássica deste tipo de literatura. Coisas como: 


PIÇA + PITO


É uma verdade intemporal e universal que piça e pito sempre se deram bem, e por isso merece ser cantada pelos muros (outrora vazios de significado) do nosso mundo, ou ainda em fachadas de edificios históricos recentemente recuperados. É algo que deve ser relembrado diariamente, senão podemos, um destes dias, dar connosco a pensar que !não! que PIÇA + PIÇA é que é bom e que PITO + PITO também é possível.
E depois claro!! Surgem os especialistas, os formadores de opinião, os Antónios Vitorinos, os Marcelos Leio- Quarenta-Livros-Numa-Semana-De-Tudo-Que-Para-Aí-Se-Escreve-Rebelo-De-Sousa, os Vascos Pulidos e os Vascos Por-Pulir, e a malta dos óculos de massa pretos, a dizer que é necessário voltar aos tempos do PIÇA + PITO, porque senão a humanidade não se renova.

Nota de pé de post:  Descobriu-se recentemente numa gruta de Foz Côa que já os Homens Macaco escreviam PIÇA + PITO (embora na altura escrevessem com erro gramatical no PIÇA, pois escreviam PISSA, mas também é preciso lembrar que na altura eram meio macacos e mulher com pelo na pernoca marchava sem grande esquisitice). Há cientistas que dizem que era um culto da fertilidade, outros dizem que era por pura parvalheira.

Ora bem...91478...

O prazer de uma avó ver o seu neto já crescidote a comer

     Este é um tema incontornável, porque sinto que quanto a isto não estou só no mundo. Quem tem a sorte de ter avó, ou de já ter tido, sabe do que falo.
     É um daqueles prazeres que caminha sobre a fina corda bamba da frustração. Porque a alegria de uma avó ver o neto a comer, pode ganhar os contornos de uma grande desilusão quando te atreves a dizer que não queres mais. (Isto à terceira pratalhada de massa com batata arroz e feijão).
     Comigo esta frustração é diária porque tenho a sorte e ao mesmo o desafio  de comer todos os dias na minha avó. (Para quem não sabe a minha avó é a melhor cozinheira do mundo, embora nenhum caçador de talentos a tenha empurrado ainda para as luzes da ribalta. De qualquer modo é este carácter underground que lhe dá essa riqueza, porque ela nunca se interessaria em contractos milionários. O único contrato que lhe parece interessar relaciona-se com a felicidade do meu estômago).
     Houve uma altura mais paranóica da minha vida (talvez devido a uma exposição mais prolongada a programas da manhã) em que pensei que a minha avó estaria a fazer a "engorda" comigo para um dia me trasformar em suculentos nacos de carne que venderia num qualquer circuito secreto de comercialização de productos alimentares gourmet (sim!carne minha é gourmet!).
     Mas essa desconfiança foi passando com o tempo. O drama é que eu até me esmifro todo para deixar a minha avó orgulhosa de mim, mas a minha magreza, secura ou na melhor das hipóteses, "elegância", ilude-a, e fá-la sentir-se responsável por isso.

"Não é 'VÓ!!! Sou assim desde "piqueno" e a solução não passa por alcançar a meta da quinta pratalhada de massa com feijão arroz batata e puré com carne."
A solução todos nós sabemos qual é...






casar






Toda a gente era "magrinha como eu antes de casar."




"Eu...António Augusto Santos...aceito-te Maria Alexandra Torcato...como minha esposa...nisto e naquilo...naquilo e nacoloutro..."
Quando por fim, o padre consuma o acto..."blá blá blá...nhé...nhé...nhé...marido e mulher"...o teu corpo de marido incha! o casaco aperta!! e eis que sai um botão disparado do teu casaco contra os dentes do padre.




Nota de pé de post: O padre partiu um dente da frente, mas já lhe tinha acontecido antes, por isso já devia estar protegido contra isso, (não tenho pena nenhuma),  além disso não precisa de dentes para nada porque aprendi na catequese que as óstias não se mastigam, ensalivam-se  na boca, até se desfazerem numa papa sem sabor.


Nota de pé de pé de post: Dói-me a barriga. Acho que comi demais...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O prazer de fantasiar (Opus nº 375,9, II alegro ma non troppo)

Por circunstâncias derivadas de uma noite bem "bibida" fiquei recentemente sem carta por três longos meses. O lado bonito é que durante três meses vou ser mais ecológico sem pensar muito nisso. E isso é reconfortante nos dias que correm. Por outro lado isto pode tornar-se muito dramático quando vives numa freguesia de arrabaldes de um concelho de arredores, de um país periférico num continente periférico, num planeta periférico numa galáxia periférica, num Universo que quem sabe se não é...periférico. Perante isto podia-me dar para deprimir mas tenho que ir trabalhar ou lá-o-que-isso-é.



Assim sendo/desta forma/posto isto, decidi levantar o dedinho polegar junto à estrada.


Nos primeiros minuto e meio nada. Esperava e desesperava até que...subitamente, assim de repente e sem eu contar, embora também estivesse esperançoso e optimista, um Porsche Carrera (coisa que não abunda por estes lados, mais pela quantidades de regos e buracos nestas estradas, do que pela preguiça de ir pedir um empréstimo) abrandou, obediente ao meu polegar hirto aos céus. E qual matriosca russa...de dentro desta bomba sai-me outra bomba.


Penso:





"Deus está "di gozação" comigo, por me ter atrevido a falar Dele em posts anteriores e está-Me agora a "quilhar" o juízo". Quando for para abrir a porta o carro vai-se desmaterializar em pó, com a gaja lá dentro, e a seguir começa a trovejar (ou trovoar?nunca sei bem, mas acho que é o primeiro), que é a maneira histriónica de Deus Nosso Senhor se rir. Espero que Ele pelo menos considere que sempre que me refiro a Ele, faço-o em Caps Lock."
 
Mas não!! Já estou dentro do automóvel. Digo: ""Vom dia"!" Para parecer ainda mais simpático e ela responde-me com um sorriso. Eu estremeço-me todo por dentro.
Se a este cenário juntarmos a frescura de um ambientador com cheiro a bosque nórdico e o Cid a tocar na rádio, temos como resultado uma atmosfera de extrema sensualidade. Além do mais, chove lá fora. Chove "cumÓcaralho". Sendo assim, vamos bem devagarinho, o que nos vai dando tempo para nos conhecermos melhor. A cada metro de asfalto vencido descobrimos ÓmeuDeus...um oceano de compatibilidades:
 
Ela diz que valoriza as pequenas coisas da vida, que gosta de chocolate e de rir.
Eu digo que a vida é um momento, que gosto de batatas fritas Sr. Basílio e de caldo verde com chouriço. (Só aqui encontramos uma ligeira diferença, mas que até torna uma possível relação futura menos monótona: ela gosta de "chouriço, mas sem caldo verde", e faz um sorriso meio psicopático ao acabar a frase.) Eu estremeço-me todo de novo, desta vez num 7.4 na escala de "Richi". É que agora ela pousou-me a mão na coxa, com a suavidade de uma borboleta. O carro começa a abrandar e ela mete por um caminho estranho. Quando vou para lhe pergun...ela tapa-me os lábios com o seu delicado e lânguido (não estou seguro do que significa esta palavra, mas os poetas usam muito e parece-me muito sensual) dedo indicador .
Enquanto isso, a sua mão avança pela minha coxa acima, qual felino acercando-se da presa na savana africana. Eu sinto todo o sangue do meu corpo a fluir para o mesmo sítio e é então que...
 
Nova mensagem de Diogo:"Sim sim... mas para além dessas fantasias masturbatórias como é que tens ido para o trabalho!?"
 
Ao que eu respondo: "Ok!ok... Vou com o meu pai...e ainda por cima tenho que me levantar uma hora mais cedo e estar outra hora na padaria a comer bolos à espera das nove"
 
(E foi assim que nasceu "fantasias masturbatórias": numa ocasional conversa de facebook. Obrigado Diogo, porque no momento em que escreveste "fantasias masturbatórias", um mundo novo abriu-se perante os meus olhos).
 
Abreijos repenicantes.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O prazer de ser adicionado

É um dia normal, num mês normal, num ano normal, num lugar normal. Sentas o rabo numa cadeira normal à hora normal. E como é normal, antes de começares a trabalhar ou lá o que isso é, abres a tua caixa de correioquente ((isto para as pessoas normais que usam hotmail, (os que usam outros carteiros devem ter a mania que são diferentes...eu cá acho-os simplesmente anormais)), dás uma "confirida" no meio da bagunça de newsletters e de mails ordinários do facebook, do tipo Maria-comentou-isto, José-gosta-daquilo, e eis senão quando... no preciso momento em que te preparavas para arrumar a casa apagando tudo de uma vez... lês como se estivesse escrito a ouro: 

Soraia Cristina adicionou-te como amigo no Facebook.

Rejubilas e pensas: "a gaja não quer ser minha amiga, ela quer é comer-me, e não sabia como me abordar na rua". Mas foi por isso que Deus dotou o Homem de inteligência, e o Homem fez o facebook. E então dizes: "Sim! Eu... José Augusto Teixeira.... aceito Soraia Cristina como minha amiga facebook...na saúde e na doença, com luzinha verde ou cinzenta!"
Em seguida vais directamente às fotos dela verificar se é tão boa como te pareceu da última vez, (com a voz da consciencia a dizer-te que devias tê-lo feito antes de dar o nó). Sim!! A gaja é tremendamente boa e o perfil dela faz-te sonhar. Só encontras compatibilidades porque ela diz que gosta das coisas simples da vida, de chocolate e de rir, e tu gostas de José Cid, de bananas e de te peidar. E dás contigo a imaginar...

Tu e ela...sozinhos...na cabana junto à praia...   

O Cid de fundo... a cantar as coisas simples da vida como só ele sabe fazer...    

Um fondue de chocolate e banana...     

E no fim...
...
tu peidas-te e ela ri-se.

O prazer da bola

Se não houvesse futebol não havia jornais para limpar os vidros.
Sem futebol não havia corta-sabores nesta pesada e sangrenta refeição que é um telejornal nacional. Antes de começar o telejornal estou a comer arroz branco seco, a meio do telejornal (sobretudo o da TVI) já estou a comer um arroz de cabidela bem malandrinho. Receio até que sem futebol não haveria mini nem tremoço. Sem futebol toda a gente acabaria por descobrir dramas existenciais que não cicatrizaram na adolescência e viveriamos numa salgalhada emocional.

Imaginem o que é entrar num café de beira de estrada (ficcionemos que o tal café se chama Boa-viagem) e ver a malta toda a dissertar entre sí, num tom suave e pausado. Porque sem bola o verbo conversar seria substituido pelo verbo dissertar e isso para além de aborrecido, dá comichão.
Desconfio ainda que sem bola não haveria Portugal. Aliás, Portugal está sempre a mudar de nome, pelo menos no estrangeiro. Já se chamou "TerradoEusébio", "TerradoFigo" e agora chama-se "TerradoRÓnaldo".
(Cum caralho!!nem de propósito!!, acabo de ser interrompido por um tipo que é capaz de já estar a falar comigo à bastante tempo-sem-eu-dar-por-isso, p'ra me dizer: "Já viu esta!! o Sá Pinto saiu da SAD do Sporting porque andou à "bufÁtÁda" com o "Liersu" "!! Sorrio amarelamente (porque tenho os dentes amarelos e por isso só sei sorrir assim) e volto para aqui). Continuando...

Sem bola, a expressão "filho da puta" já teria entrado em extinção, e todos nós sabemos que é muito importante manter a tradição. Porque tradição é cultura e cultura é identidade.

Meu Deus!! sem bola tudo seria tão diferente!

(Por falar em Deus... aposto que o Gajo é benfiquista! Por uma razão muito simples, é que a coisa que lhe dá mais pica é testar a fé dos Homens). 
A conclusão a que chego depois de tanto palavrear sobre bola é que podia ser comentador desportivo, porque consegui falar de bola sem dizer uma palavra sobre futebol durante todo este post.

P.S. Porque é que insistem em chamar comentador desportivo a quem só comenta futebol? Que eu saiba existem muitos desportos, uns acabados em "bol", e outros que nem por isso, mas a que também chamam desporto (normalmente os mais amaricados não acabam em "bol", a não ser o Rugby, que não sei como se escreve em português e provavelmente também escrevi mal em inglês).

P.S.D. E se o desporto rei fosse a Bisca Lambida...
...pois, foi o que eu pensei.

Porquê (take 2)

Porque masturbar dá prazer e porque o prazer foi a maior descoberta do Homem. Prazer é libertação, mas simultaneamente ainda que não paralelamente prisão. Ou seja, não é um paradoxo, porque as duas coisas não coexistem ao mesmo tempo, digamos que se geram uma à outra. No fundo é uma missão de libertação. Clarificando: se consegues ter prazer é libertação, se não consegues, mas queres muito... é uma prisão... mais que uma prisão!! é uma tortura pior que pendurar uma cenoura à frente da cabeça de um burro. 
É aí que entra o milagre da masturbação:

 "Aii não queres filha!! então fode-te que eu vou para casa fazer uma orgia com a Sharon Stone,a Charlize Theron, e a Elsa Raposo (na sua fase Sexapeal)."

Já os padres, esses fizeram de tudo para convencer o povo de que o prazer carnal era uma prisão, que o Senhor não gostava disso, que Maria Madalena nunca lavou mais nada a Jesus que não os pés. Mas a pergunta que nunca ninguém ousou fazer é: Jesus não era já suficientemente crescido para lavar os próprios pés? Ou sofreria das costas? Ai Jesus!! Adiante...
Diziamos que os padres chamavam ao prazer prisão, mas o povo não aguentou o tesão e lá acabou por meter a mão. E fez bem, senão hoje não existia este blogue, nem este blogueiro, nem tu meu interessado leitor.


P.S. Prazer não é só "ssuder", por exemplo quando estamos muito apertadinhos para mijar e por fim nos libertamos desse demónio que está dentro de nós sobre a forma de 2 litros de SuperBock destilados em mijo, é bom como o...  (adivinhem)

Porquê?

Porque fantasiar é bom. Porque masturbar por vezes é não só o melhor remédio, como o único disponível e porque quando não nos podemos masturbar...então rir é que passa a ser o melhor remédio.